CONJUNTURA
A economia portuguesa foi a terceira que mais cresceu dentro dos países da União Europeia. Não deixa de ser um crescimento a apreciar tendo em conta o contexto atual, sendo assim natural uma revisão da projeção para o crescimento em 2023. A inflação desceu, mas ainda mostra resistências que não serão fáceis de ultrapassar em algumas das suas componentes, nomeadamente a taxa de inflação subjacente (exclui a energia e os alimentos não processados) é agora superior à inflação global.
Face a estes indicadores, poderemos estar perante uma estabilização ou uma ligeira quebra do ciclo económico. É altamente expetável um abrandamento da procura externa com exceção no turismo. O prolongar do aumento das taxas de juro contribui para um clima de incerteza e de prudência no consumo, ficando a dúvida se o BCE irá já aumentar novamente as taxas ou fazer uma pequena pausa.
A taxa de desemprego em Portugal terá descido para 6,8% face aos 7% registados em março. Em abril estavam 357 mil pessoas desempregadas, um recuo superior a 10.000 em relação a março (368,5 mil), ou uma redução de 3,1%. No entanto, podemos ver o outro lado da moeda, estes valores representam um aumento face a abril do ano passado (mais 15,9%); ou ainda, a população desempregada cresceu (em termos homólogos) desde novembro, estando em março cerca de 20% acima do valor de há um ano atrás. De relembrar que a previsão para o desemprego este ano é de 6,9%.
A Alemanha entrou em recessão, a guerra na Ucrânia provocou um abrandamento no consumo e a uma diminuição na produção industrial. Mesmo assim a Alemanha prevê terminar o ano com um crescimento de 0,4%.
Nos EUA, ultrapassada a questão do teto da dívida (que o euro aproveitou para recuperar valor), será natural uma revisão em baixa da atividade tendo em contas as previsões modestas para o crescimento económico. Outro fator de crescente preocupação é a ligação entre o sector imobiliário comercial e o sector financeiro. Uma quebra na procura e os efeitos que ainda perduram da pandemia podem provocar correções de preços num setor que pode estar sobrevalorizado e onde os fundos de investimento nem sempre têm acesso a liquidez, afetando assim a banca e refletindo isso para a economia real.
Tivemos assim um 1º trimestre de 2023 bem melhor que o previsto, no entanto mantem-se no ar a incerteza quanto aos próximos tempos, não sendo de esperar que sejam tão bons quanto estes.
Fontes: INE, BdP, BPI research, Lusa, Eurostat.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
i. Gestão Corrente
ii. Conquistas
São Vicente 1
Realizada distribuição de rendimentos relativa ao 1º trimestre de 2023.
iii. Melhorias e Evoluções
TODOS
CONTAM
Uma nota de agradecimento ao Luís Soares. O Luís, de forma direta e indireta, esteve com a Empirepuzzle. Contribuiu para o seu crescimento, na forma de como a contabilidade do negócio pode ser pensada, planeada e gerida. Neste momento de dor para todos nós que tínhamos o prazer de conviver diariamente com ele, fica o nosso muito obrigado.
"QUATRO DÉCADAS DE PREVISÕES OFICIAIS DE CRESCIMENTO"
Este artigo tem o propósito de
avaliar em termos comparativos o desempenho das previsões oficiais
de crescimento do PIB que têm servido de base às Grandes Opções dos
Planos portugueses (GOP) e é uma síntese de um documento publicado
com o título «Precisão e enviesamento das previsões de crescimento
das Grandes Opções dos Planos em Portugal» que pode ser consultado
no LinkedIn.
Aspectos metodológicos
As dimensões da medida da qualidade e performance das previsões económicas geralmente usadas são: precisão (grandeza e direcção dos erros de previsão), enviesamento (desvios sistemáticos positivos ou negativos) e eficiência (grau com que são usadas as informações disponíveis quando a previsão é feita. Neste trabalho interessam-nos apenas as duas primeiras.
O período de avaliação, dividido em quatro subperíodos mais homogéneos, foi 1982-2022 excluindo os primeiros anos de transição para o regime actual. Desse período de 41 anos não foram considerados por indisponíveis os dados de cinco anos.
A pandemia de 2020-2021 foi um factor exógeno, imprevisto e imprevisível que teve um impacto considerável, sobretudo no ano de 2020 em que o erro de previsão foi superior a 10 pp. Por essa razão, todos os parâmetros foram calculados com e sem o ano 2020.
A análise da precisão foi feita de três pontos de vista: dos governos, dos partidos que governaram e do ponto de vista comparativo com outras instituições nacionais e multinacionais.
Análise da precisão
Do ponto de vista dos Governos
Das quase duas dezenas de parâmetros calculados, alguns deles para cada um dos quatro subperíodos, inferiu-se:
Grande dispersão dos erros de previsão, sugerindo dificuldades dos modelos preditivos adoptados pelos sucessivos governos capturarem a complexidade da evolução do sistema económico;
Os erros de previsão apresentam variações consideráveis nos quatro subperíodos, desde um mínimo de 0,6 pp nos anos da crise até 4,0 pp no último subperíodo;
As previsões são pouco precisas e ficou evidente capacidade limitada de antecipação das mudanças de conjuntura, sobretudo das recessões;
A previsão das GOP é menos precisa do que uma previsão “naïve” em que a taxa de crescimento prevista para o ano seguinte é a taxa real do ano.
Em conclusão, trata-se de um desempenho fraco, quer em termos absolutos, quer em termos comparativos.
Do ponto de vista dos Partidos
Considerando a totalidade do período, a precisão medida por vários indicadores das previsões dos governos PSD é superior à dos governos PS, salvo no período 1986-2010, o que é explicado por nesse período os governos PS não terem apresentado previsões em três anos (1996-1998) e em outros quatro apresentaram um intervalo de previsão.
Note-se que há comportamentos muito diferentes nos subperíodos, destacando-se com maior precisão as previsões dos períodos 1982-1985 e 2011-2015, o primeiro em que o PS governou 3 dos 4 anos e o segundo que abrange o resgate e o PAEF em que o PSD liderou a coligação.
Os valores do Erro Absoluto Percentual Médio confirmam (1) comportamentos muito diferentes nos subperíodos; (2) tendência para melhoria da precisão e (3) uma melhor precisão das previsões dos governos PSD, mesmo excluindo 2020.
Em relação ao grau de antecipação das mudanças de direcção do crescimento, isto é, a transição de crescimento para recessão ou vice-versa, os valores da Precisão Direccional Média mostram não haver diferenças significativas entre os governos PS e PSD que em ambos os casos só conseguem antecipar essas mudanças de ciclo económico em menos de 2/3 dos casos.
Avaliadas com o Coeficiente de Desigualdade de Theil, as previsões dos governos PSD apresentam uma eficácia claramente superior à dos governos PS nas quais o valor deste indicador o aproxima das previsões chamadas naïves.
“Benchmarking” da precisão
As previsões das GOP em três períodos diferentes (1987-2011, 1991-2009 e 2000-2014) apresentam um Erro Absoluto Médio e um Erro Quadrático Médio quase sempre superiores e até 1,6 vezes maiores do que os das mesmas previsões pela Comissão Europeia, OECD e Consensus Economics.
Comparando em quatro períodos diferentes (1982-2000, 2010-2020, 2012-2021 e 2006-2015) os valores de quatro parâmetros das GOP com os do Swiss National Bank (SNB), do Office for Budget Responsibility (OBR) birtânico, do Sveriges Riksbank (SR) e dos institutos austríacos IHS e WIFO, verificamos que, com uma excepção, os valores das GOP são superiores entre mais de 40% a mais do triplo das médias das outras instituições nacionais, revelando um desnível ainda mais acentuado do que na comparação com as instituições multinacionais.
O valor do Coeficiente de desigualdade de Theil das previsões das GOP tem um valor superior a duas vezes o dos institutos austríacos, revelando uma eficácia preditiva muito menor do que as previsões naïves.
Análise do enviesamento
As previsões das GOP têm Erros Médios negativos (0,5 pp) revelando uma tendência sistemática para a sobre-previsão no período e em todos os subperíodos, excepto no quarto subperíodo quando se exclui o ano 2020. Constata-se assim um enviesamento positivo resultante de uma tendência para sobrestimar o crescimento e subestimar a recessão. No entanto, as 36 previsões anuais dividem-se em metades exactamente iguais de sobre-previsões e sub-previsões, mas com distribuições por partido que confirmam um PSD mais propenso ao excesso de optimismo (10 em 18 das sobre-previsões).
Numa óptica partidária, os Erros Médios confirmam um maior optimismo das sobre-previsões e um menor realismo das sub-previsões dos governos PSD em relação aos governos PS, quer se considerem todos os anos quer se exclua o ano 2020. Essa circunstância poderia ser explicada por um maior empenho do PSD em influenciar as expectativas dos agentes económicos e condicionar os seus comportamentos.
O «benchmarking” do enviesamento das previsões das GOP, neste caso com dados mais limitados ao Erro Médio de alguns períodos e de algumas das instituições, revela que as previsões das GOP têm enviesamentos negativos e muito mais acentuados em valor absoluto aos das instituições multinacionais e das instituições nacionais de outros países, que são geralmente positivos.
Constata-se também que no caso das GOP os erros nos anos de recessão são muito maiores do que nos anos de crescimento, em linha com as conclusões de outros estudos internacionais.
A comparação do Erro Absoluto Médio das previsões dos governos nos anos de crescimento e de recessão parece confirma a conclusão anterior, uma vez que os erros do PSD nos anos de crescimento têm uma amplitude maior e os erros nos anos de recessão tem uma amplitude menor do que os erros do PS, podendo significar que os governos PSD tentam mais intensamente melhorar as expectativas de crescimento do que mitigar as de recessão, inversamente aos governos PS que subestimam mais as quedas do PIB nos anos de recessão.
Diamantino Reis, Economista e Consultor de empresas
AGENDA DO
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Junho 2023