CONJUNTURA
"DEPOIS DO VERÃO"
Confirmada a estagnação do PIB no 2T (INE), na qual a procura externa contribuiu para tal, resultado de uma forte queda das exportações. O consumo privado melhorou ligeiramente relativamente ao 1T. O indicador de clima económico continua a decair, mesmo que marginalmente (menos 1 décima face a julho); a explicação mais óbvia tem a ver com a diminuição, em todos os setores, dos indicadores de confiança.
O comércio a retalho cresceu 3,6% (variação homóloga), estando o volume de negócios cerca de 9% acima do nível pré-pandemia. Nos preços, a inflação registou um ligeiro aumento em agosto, para 3,7% (em junho foi de 3,1%), seguramente devido aos aumentos mensais de preços da energia.
Caiu em julho, pelo quarto mês consecutivo, a carteira de crédito ao sector privado não financeiro O grande destaque vai para a carteira de crédito à habitação (-0,3% homologo), com a primeira queda homóloga desde junho 2020; sendo esta explicada pela diminuição das novas operações (-23,9% no acumulado dos primeiros 7 meses) e amortizações antecipadas (+55,7% até julho face ao período homólogo).
Agora que o verão terminou e começamos a olhar novamente para o que nos rodeia, percebemos que na europa o crescimento do PIB foi de 0,3% (comparado com o 1T) sendo a França o motor deste crescimento. Nos EUA a oferta de emprego diminuiu bem como a criação de novos postos de trabalho, no entanto a previsão para o crescimento do PIB em cadeia é de 6% (anualizado no 3T). A China está a abrandar e com problemas no setor imobiliário a provocar instabilidade financeira. Assim, as perspetivas de crescimento a nível global vão-se desvanecendo, com os bancos centrais a pretenderem prolongar as taxas de juro elevadas durante mais tempo e os indicadores de clima empresarial a preverem um abrandamento para o setor dos serviços e da indústria transformadora; com alguma naturalidade vão surgir revisões em baixa para o crescimento.
Fontes: INE, BdP, BPI research, Eurostat, yahoo finance, BCE.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
i. Gestão Corrente
ii. Conquistas
2º Reembolso parcial de capital investido projeto Portas do Montijo
Foi encerrado mais um projecto: NÁUTICO
NÁUTICO
Capital 750.000€ | 38 Membros
iii. Melhorias e Evoluções
TODOS
CONTAM
"RABO DE PEIXE: UM OUTRO OLHAR"
Rabo de peixe esteve em foco
recentemente por causa de uma série televisiva. Aproveito para
observar Rabo de Peixe de um outro prisma.
De acordo com a OCDE, em Portugal, serão necessárias cinco gerações para que descendentes de famílias situadas nos 10% mais pobres, alcancem o rendimento médio do país.
Quem obtém maior sucesso são aqueles que têm acesso às oportunidades, o que conduz a mais oportunidades e a mais sucesso. O sociólogo americano Robert Merton, refere este efeito, como o efeito Mateus, baseado no versículo 12, capítulo 13, do Evangelho de São Mateus: “Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.”
Já não é só a desigualdade de oportunidades associada ao background socioeconómico ou às desigualdades territoriais. É a necessidade de dar a todos uma hipótese de sucesso. O elevador social está estagnado. As condições sociais e económicas com que nascemos são, muitas vezes, as mesmas com que vivemos e morremos.
Será que perante a aventura da vida, o local onde nascemos garante, a oportunidade de sermos aquilo que quisermos vir a ser?
A localidade está na cauda da Europa e de Portugal. Rabo de Peixe é assim chamada devido à quantidade de rabos de peixe que comiam apesar de em tempos ali ter sido encontrado o rabo de um grande peixe desconhecido. Vive essencialmente da pesca e da agricultura.
Os problemas em Rabo de Peixe, estão há muito tempo identificados. O projeto “Velhos Guetos, Novas Centralidades” (2005-2008), encarregou-se de os identificar. Foram investidos vinte e três milhões de euros.
A face física de Rabo de Peixe foi alterada, foram construídos equipamentos. A face social pouco mudou. Seguramente houve benefícios, múltiplas ações de sensibilização, a iliteracia baixou, o RSI veio ajudar, mas também veio contribuir para uma acomodação da população. Este projeto veio minimizar a pobreza na população, mas ao mesmo tempo deixou as condições para que esta pobreza se perpetue no tempo.
Rabo de Peixe tem problemas enraizados na sua sociedade que não se resolvem só com edifícios. Se o meio em que vives condiciona as tuas aspirações, uma população que vive essencialmente da pesca, tem naturalmente as suas aspirações baixas. Filho de pescador, pescador será.
Mais importante que a intervenção física, é a intervenção social. Conseguir a participação local e cidadania, formação e qualificação profissional, sensibilização para a saúde e ambiente.
É necessário perceber quais as origens das dinâmicas que levam à pobreza e quais os bloqueios da população. Como mudar o paradigma de forma a acionar o elevador social.
Não existe fórmula mágica para solucionar o problema. Mas é preciso perceber o que foi feito noutros locais do mundo que tenha resultado. Adaptar, desenvolver um conceito, testar, reformular, aplicar.
Os problemas que se constatam em Rabo de Peixe são variados:
Gestão e comunicação - Anteriores intervenções com pouca eficiência. Uma dependência social do de apoios do estado. Uma contínua desarticulação na gestão da intervenção.
População residente - Alta taxa de natalidade e famílias numerosas Baixo nível de escolaridade e abandono escolar. Os jovens estão em grupos de risco. Desemprego. Condições socioeconómicas e culturais precárias, bem como as habitações. Violência doméstica, alcoolismo e problemas de saúde.
Representações sociais - Separação do tecido social e físico entre área rural e piscatória. Pobreza e miséria como imagem. Zona próxima do conceito de gueto. Segregação socio espacial historicamente enraizada.
Envolvente edificada - Sobreocupação das habitações. Habitações e espaços públicos degradados. Falta de planeamento urbano.
As disparidades sociais começam na infância e estendem-se ao longo do percurso escolar até ao acesso ao ensino superior. Prolongando-se durante a vida adulta.
Assim, filhos de pais com baixos rendimentos acabam também por ter baixos rendimentos. No topo, as crianças cujos pais têm rendimentos elevados crescem para também elas terem rendimentos elevados.
Quanto ao tipo de ocupação, mais de metade das crianças de pais trabalhadores manuais acabam com a mesma ocupação dos pais. Já os filhos de gestores têm cinco vezes mais probabilidades de serem também eles, gestores.
Depois temos a falta de oportunidades: de trabalho, das condições de trabalho, do salário, da proteção social e o acesso a ela, de aceder a tecnologia, de poder ir aprendendo ao longo da vida. Temos desemprego, falta de oportunidades, de pouca formação, desemprego de longa duração.
A motivação da população para contrariar a sina que lhes está destinada, é baixa. O RSI veio mascarar a pobreza e minimizar a pobreza.
Outro aspeto importante é a saúde, as doenças geradas pela patologia da pobreza. Não apenas a saúde física, mas também a social que salta à vista.
O que se constata, é que mais importante que as instalações físicas, tais como escolas ou centros de saúde, são os modelos de gestão e desenvolvimento aplicados.
Em Rabo de Peixe, a qualidade de vida e os rendimentos foram melhorados graças ao Estado, mas a igualdade de oportunidades que também deveria ter acontecido, é muito insuficiente. O projeto “Velhos Guetos, Novas Centralidades”, mudou a face, mas não mudou a cultura de Rabo de Peixe, a população não aderiu à mudança e tornou-se um ponto turístico de pobreza.
A avaria do elevador social em Rabo de Peixe, surge por uma conjugação de desigualdades. Desigualdades socias, económicas, escolares e culturais. O crescimento económico é alcançado à custa de empregos precários e baixos salários. Tem consequências negativas em termos sociais, económicos e políticos, pois implica que muitos talentos não estejam a ser aproveitados, o que diminui o potencial crescimento económico, além de reduzir o bem-estar e a coesão social.
Estas desigualdades são criadas e perpetuadas em modelos de desenvolvimento obsoletos. Enquanto o objetivo for, exclusivamente, o desenvolvimento económico em prejuízo de objetivos sociais e ambientais, os resultados vão continuar a ser prejudiciais para a felicidade das pessoas.
No norte da europa, a realidade é outra. Nos países nórdicos, são precisas apenas duas a três gerações para alcançar o rendimento médio. Os países nórdicos conjugam uma baixa desigualdade social com alta mobilidade social.
Uma das mais significativas diferenças está na educação. Olhando em particular para a Dinamarca, ainda antes do pré-escolar, aos seis meses, a criança tem ao seu dispor um serviço de creches. O seu modelo de ensino coloca a Dinamarca bem acima da média no que diz respeito ao impacto da renda familiar dificultar a ascensão social.
Uma questão que se levanta no modelo atual de educação, é se o obrigar a estudar numa escola consoante a sua localização geográfica, é uma forma de descriminação?
A redistribuição por meio de impostos e apoios sociais, sempre foi uma ferramenta utilizada e é uma forma de reduzir a desigualdade, mas não resolve as desigualdades de oportunidade, principalmente ligadas ao sistema educacional e ao mercado de trabalho. A redistribuição apoia o padrão de vida de famílias mais pobres, mas não consegue corrigir as disparidades nas classes acima. O paradoxo é que este tipo de ação leva a uma manutenção de políticas de baixos rendimentos. Mas acima de tudo, não é suficiente para conter a desigualdade de oportunidades associada ao background socioeconômico ou às desigualdades territoriais.
É necessário dar a todos uma hipótese de poderem vingar na vida, isso vai ações para garantir que, por meio da educação, da formação, do emprego, de investimento privado, todos tenham a oportunidade de progredir, desde a infância e ao longo da vida e que todos os adultos que falhem uma etapa, possam recuperar.
“It always seems impossible until it´s done” Nelson Mandela
Nuno Santos, Asset Manager
AGENDA DO
MÊS
Setembro 2023