CONJUNTURA
CONJUNTURA ECONÓMICA - SETEMBRO DE 2025
Setembro trouxe novos elementos de análise para a conjuntura portuguesa e global, reforçando tendências já existentes e evidenciando desafios emergentes nos mercados internacionais. Em Portugal, começa a notar-se uma moderação das pressões inflacionistas: a inflação anual baixou para 2,4 % em setembro (face a 2,8 % em agosto). Este arrefecimento proporciona alguma folga em termos de política monetária e poder de compra, embora o cenário global continue a exercê tensão sobre a economia doméstica. No plano fiscal e de credibilidade externa, Portugal recebeu mais um impulso favorável: a agência Fitch elevou o rating soberano do país de “A–” para “A”, destacando a solidez fiscal, a trajetória de redução da dívida externa e o alinhamento das contas públicas. Este movimento reforça a perceção de resiliência das finanças públicas portuguesas num momento em que muitos países enfrentam défices.
Quanto à atividade global, os indicadores industriais voltaram a revelar dificuldades: muitos países asiáticos e europeus registaram contrações ou taxas de crescimento reduzidas no setor manufatureiro, sobretudo em função da fraqueza da procura em China e nos EUA. Em particular, a China registou o seu sexto mês consecutivo de contração da atividade industrial, refletindo tensões persistentes no setor imobiliário e fraca procura interna.
Nos mercados de obrigações dos EUA, as yields dos Treasuries evidenciaram alguma volatilidade, mas terminaram o período relativamente estáveis. A curva de rendimento mostrou alguma inclinação e o rendimento do título de a 10 anos andou em torno dos 4,15 %, enquanto o de a 30 anos se manteve próximo dos 4,75 %. O comportamento dos mercados de obrigações é relevante, porque afeta os custos de financiamento globais e pode pressionar as economias com dívidas elevadas. Nos EUA, há ainda uma preocupação latente com o risco de shutdown governamental, o que alimenta a incerteza nos mercados e pode atrasar a divulgação de dados económicos relevantes.
Na Europa, o crescimento continua modesto e heterogéneo entre os
estados-membros. A Comissão Europeia sustenta a urgência de
iniciativas que revitalizem o investimento coletivo e promovam
inovação e competitividade, sobretudo num momento em que a escassez
de mão de obra qualificada se agrava. O discurso recente de António
Costa no New Economy Forum reforçou a necessidade de coesão europeia
para responder a desafios estruturais comuns.
Fontes: INE, BdP, BPI research, Eurostat, yahoo finance, BCE, turismo de Portugal
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
i. Gestão Corrente
ii. Conquistas
Conclusão do projeto: VFX 47
VFX
47
Capital 243.400€ | 26 Membros
iii. Melhorias e Evoluções
TODOS
CONTAM
DO ENVELHECIMENTO À SUSTENTABILIDADE: OS DESAFIOS DEMOGRÁFICOS DE PORTUGAL
Portugal encontra-se perante uma transformação demográfica profunda, marcada por dois movimentos em simultâneos: A persistência de uma natalidade muito baixa e o aumento contínuo da esperança de vida. Nunca se viveu tanto tempo nem com tanta saúde, mas esta conquista convive com uma taxa de fertilidade (que mede o número médio de filhos por mulher em idade fértil) que há décadas se mantém bem abaixo do nível de renovação das gerações. Hoje, as mulheres portuguesas têm em média pouco mais de 1,4 filhos, quando seriam necessários 2,1 para equilibrar a renovação populacional. Esta realidade traduz-se num envelhecimento acelerado da população, visível no facto de a idade mediana já ultrapassar os 47 anos e de, por cada 100 jovens, existirem quase 200 idosos.
As consequências desta dinâmica são profundas. A população em idade ativa (hoje representa cerca de 63% do total), diminuirá para quase metade até 2050. O rácio entre pessoas em idade de trabalhar e reformados cairá de 2,5 para 1,6, o que significa que o esforço de financiamento das pensões e da proteção social recairá sobre um número cada vez menor de trabalhadores. Ao mesmo tempo, irá pressionar o sistema de saúde e os cuidados de longa duração, colocando em causa a sustentabilidade das finanças públicas. O impacto económico não é menos relevante. Projeções recentes indicam que a combinação de menos nascimentos e mais longevidade poderá retirar, até meados do século, cerca de 0,6 pontos percentuais ao crescimento anual do PIB português. Este abrandamento compromete não só a capacidade de criar riqueza, mas também a de manter a coesão social. Perante este cenário, a imigração tem desempenhado um papel essencial ao evitar que o declínio seja ainda mais rápido. Nos últimos anos, os fluxos migratórios contribuíram de forma decisiva para que a população portuguesa não diminuísse. Contudo, este mecanismo, embora indispensável, não é suficiente por si só: Seria necessário atrair e integrar um número de imigrantes muito superior para compensar a baixa natalidade.
Ainda assim, existem caminhos para mitigar o desafio. Políticas de apoio às famílias podem suavizar o declínio da natalidade, ainda que os seus efeitos sejam lentos. A valorização da participação das mulheres no mercado de trabalho, o prolongamento das carreiras profissionais e a criação de condições que permitam envelhecer de forma ativa e produtiva são igualmente decisivos. Acresce ainda a necessidade de repensar o sistema de pensões, estimular a poupança privada e, sobretudo, investir em ganhos de produtividade que permitam compensar a redução da força de trabalho. A tecnologia e a inovação, nomeadamente a inteligência artificial, poderão desempenhar aqui um papel central.
Portugal enfrenta uma verdadeira encruzilhada demográfica. A pirâmide populacional, que outrora assentava numa base larga de jovens, estreitou-se de tal forma que ameaça a estabilidade futura. Mas esta não é uma fatalidade. Se houver visão estratégica e capacidade de ação, a longevidade pode ser transformada em oportunidade, reforçando a solidariedade intergeracional e garantindo uma sociedade mais equilibrada e sustentável.
Nuno Santos, Asset Manager
AGENDA DO
MÊS
Outubro 2025